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Métodos diagnósticos

Atualização científica

Utilização dos métodos não invasivos em diagnósticos das arritmias na infância


Autor: Rogério Braga Andalaft
Médico assistente do setor de Eletrofisiologia Clínica e arritmias Cardíacas do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
Médico assistente do setor de Tele-ECG do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia



A aplicação dos métodos não invasivos em pediatria permite uma pré definição e uma estratificação de eventos arrítmicos na infância. Dentro de uma população onde os métodos invasivos ainda carecem de maior adaptação e os riscos dos procedimentos ainda são superiores à população adulta, conhecer precisamente o diagnóstico antes da indicação de um procedimento é de fundamental importância. Nas próximas linhas abordaremos de forma geral as principais ferramentas não invasivas para diagnóstico das arritmias cardíacas na população pediátrica enfocando de maneira especial a abordagem do paciente com cardiopatia congênita nos períodos de pré e pós operatório.

Eletrocardiograma

Obsetrvar o eletrocardiograma de crises de taquicardia é de grande importância para o clínico definir também na infância o mecanismo da taquicardia. Observamos na análise das taquicardias na infância que estas são mais rápidas e melhor toleradas que as que ocorrem no adulto. Contrariamente as bradicardias não possuem a mesma tolerabilidade principalmente entre recém natos onde o debito cardíaco é extremamente dependente de freqüência cardíaca.
A análise do eletrocardiograma na população pediátrica possui peculiaridades diagnósticas em relação aos adultos. A criança possui nas suas diversas fases até o início da adolescência um predomínio do tônus simpático o que lhe proporciona maior freqüência cardíaca. A labilidade da onda T e maior incidência de distúrbios pelo ramo direito e falsas morfologias de distúrbios de condução onde não há atraso final maior que 30 ms podem confundir o medico assistente principalmente se a criança se apresentar ao consultório com quadro de palpitação, precordialgia ou sincope.
Neste momento deve-se lembrar que as crianças de forma geral apresentam complexos QRS mais estreitos que os adultos, de forma que em algumas situações durações superiores a 90 ou 100 ms podem ser consideradas de complexos QRS alargados.
As taquicardias de complexos QRS alargados envolvem na infância cinco diagnósticos possíveis: taquicardia ventricular, taquicardia supraventricular aberrante, taquicardia supraventricular com bloqueio de ramo preexistente, taquicardia por reentrada atrioventricular antidrômica e fibrilação atrial (FA) associada à síndrome de Wolf-Parkinson-White (WPW). Já as taquicardias de complexos QRS estreitos envolvem as taquicardias supraventriculares em sua forma clássica e uma forma específica de taquicardia ventricular denominada taquicardia ventricular fascicular (que possui complexos QRS relativamente estreitos, morfologia tipo BRD com eixo desviado para esquerda).

Figura 1 - Esquema de possibilidades diagnóstico para taquicardias.


Figura 2 - Esquema diagnóstico para taquicardias de complexo QRS estreito


Flagrar a crise de taquicardia ou documentar o episodio de bradicardia são essenciais ao médico para determinar a conduta. Entretanto nem sempre é possível o registro com os aparelhos de ECG convencionais que registram apenas poucos segundos. Outra dificuldade diagnóstica é a exigüidade de sintomas entre os jovens e a baixa preocupação do pediatra com eventuais cardiopatias na infância que não se manifestam com quadros de extrema gravidade.
Em um estudo realizado no setor de Tele- ECG do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia Foram analisados 3139 exames de crianças assintomáticas entre 0 e 10 anos de idade retirados do sistema Tele-ECG. Estes foram classificados de acordo com a diretriz brasileira de ECG e os resultados estão demonstrados abaixo na figuras 3 e 4.
Neste aspecto a triagem eletrocardiográfica pode fornecer dados interessantes para profilaxia precoce de eventos que possam colocar a vida em risco especialmente no que se refere a presença de doenças eletrogenéticas. Estes eventos podem acometer jovens no início de suas práticas esportivas ou mesmo bebes nos episódios de morte súbita no berço.
A análise do ECG de 12 derivações permite analisar o intervalo QT (nas síndromes de QT longo e curto) o segmento ST na Síndrome de Brugada, o intervalo PR na síndrome de WPW, ou alterações precoces de distúrbios de condução pelo ramo esquerdo nos casos de miocárdio não compactado.
Outra alteração que pode gerar eventos súbitos entre jovens, principalmente entre adolescentes, é a miocardiopatia hipertrófica que pode apresentar alterações ECG tais como a presença de ondas Q patológica ou mesmo padrões de sobrecarga ventricular gerando morte por arritmias ventriculares complexas e fibrilação ventricular. Entre caucasianos podemos encontrar pacientes portadores de displasia arritmogênica com arritmias originadas do VD onde em aproximadamente 30% dos casos existe a presença de ondas épsilon no ECG de repouso. Lembramos que a miocardipatia hipertrófica, a displasia arritmogênica de VD e a síndrome do miocárdio não compactado são doenças evolutivas que podem se manifestar em fases mais tardias da infância e adolescência, gerando por vezes eventos súbitos durante atividades desportivas.



Figura 3- Distribuição dos eventos arrítmicos em uma população assintomática de crianças entre 0 e 10 anos utilizando como referencia a Diretriz Brasileira de ECG - 2009


Figura 4 - Distribuição das alterações da repolarização ventricular em uma população assintomática de crianças entre 0 e 10 anos utilizando como referencia a Diretriz Brasileira de ECG - 2009

Abaixo segue algumas características eletrocardiográficas das principais taquiarritmias que podem ser diagnósticas pelo ECG na infância




Quadro 1 - Diagnóstico diferencial das TPSV entre jovens

Holter 24 e suas variantes

A análise do traçado de Holter deve ser cuidadosa e seguir os mesmos preceitos da analise do ECG de 12 derivações quanto a identificação de ondas P complexos QRS e ondas T. Antes de comentarmos algumas particularidades do traçado de Holter e o que podemos retirar do sinal eletrocardiográfico de longa duração digitalizado podemos enfatizar algumas características próprias dos sistemas mais freqüentemente difundidos em nosso país.
Primeiramente o Holter fornece uma gravação continua em 24 ou 48 horas e com os aparelhos atuais até em 7 dias com o intuito de avaliar de forma dinâmica o comportamento da FC e do ritmo, em situações do cotidiano do paciente, assim como correlacionar dados do traçado com sintomas ou atividades do paciente descritas em um relatório, ou ativadas pelo botão de eventos que existe na grande maioria dos sistemas. Quando realizamos a analise de um exame de Holter temos a oportunidade de observar como um filme o comportamento ECG em 24 horas. Ao mesmo tempo em que ganhamos em duração, os sistemas convencionais de 3 canais dispostos em derivações bipolares não nos fornece dados morfológicos correlatos com o ECG de 12 derivações. Vale relembrar ao leitor que crianças necessitam de uma análise cuidadosa comparando os dados de duração encontrados com as tabelas existentes de valores para idade conforme disposta abaixo. Por exemplo, um complexo QRS com duração de 100 ms outrora normal em um adulto já denota um distúrbio da condução intraventricular em um recém nato.

Figura 3- Traçado eletrocardiográfico de uma criança de 2 meses de idade. Observe a presença de ondas P seguidas por QRS e FC dentro dos limites da normalidade.
O Holter perimite quantificar a densidade de eventos arrítmicos e também nos permite acompanhar fenômenos eletrocardiográficos com maior facilidade observando-se o inicio e o final de uma taquicardia. Outro aspecto interessante e atual do Holter que pode ser aplicado à infância é a análise do tacograma para detecção de apneia obstrutiva do sono que na infância pode se estabelecer pela obesidade ou problemas anatômicos das vias aéreas superiores,

Figura 40 - Tacograma de batimentos em duas situações clínicas. Em A episódio de ampla variação batimento a batimento compatível com tacograma de um paciente com apnéia obstrutiva do sono. Em B tacograma com comportamento normal. (Sistema Cardiosmart).
O Holter também permite a aferição do intervalo QT principalmente durante o período noturno o que é útil na detecção de casos de QT longo. Permite também a busca de paroxismos de taquicardia sem sintomas e a pesquisa de pré excitação ventricular de padrão intermitente. Vale lembrar que na infância assim como nos adultos o Holter permite a pesquisa de bradicardias (falhas de automatismo ou bloqueios sinoatriais e atrioventriculares de diferentes graus) fornecendo dados sobre a freqüência cardíaca média e mínima que podem auxiliar na indicação de dispositivos como ocorre nos casos de BAVT congênito.
Outra ferramenta possível de ser utilizada no Holter é a variabilidade da FC. Vale ressaltar que a criança tem principalmente durante a primeira infância baixa variabilidade da freqüência cardíaca , fato que ainda carece de maiores estudos para determinação de valores de normalidade e análise clínica

Eletrocardiografia de Alta resolução
Os potenciais tardios são elementos gráficos derivados da fragmentação da condução do estímulo elétrico em áreas de desarranjo das fibras miocárdicas, onde se encontra músculo cardíaco viável entremeado a tecido fibrótico e gorduroso. Eles retardam a despolarização celular, em última análise o fim dos complexos QRS, se inscrevendo da sua porção terminal ao início do segmento ST. Essa condução lentificada, por sua vez, gera potenciais de baixa amplitude e alta frequência. A despolarização celular prolongada em área adjacente a tecido doente, predispõe ao surgimento de circuitos de reentrada e, consequentemente, a taquiarritmias. A avaliação do ECG AR na população pediátrica carece de estudos e parece ter utilidade no segmento de casos de ectopia do ventrículo direito para diagnóstico de displasia arritmogênica de VD. Estes potenciais são raramente observados no ECG de 12 derivações, transcrevendo a chamada onda Epsylon, característica em pacientes com displasia arritmogênica do ventrículo direito. Em geral, os potenciais tardios são obtidos através do eletrocardiograma de alta resolução. Trata-se de método não invasivo, relativamente barato e de fácil aplicação clínica. O ECGAR elimina ruídos indesejáveis do ECG de superfície, através de filtros bidirecionais, aumentando sinais de baixa amplitude e alta frequência. Estes são então registrados em três derivações, como o vetocardiograma, com valores de corte de frequência de 25 a 400 ou 40 a 400Hz. Geralmente são filtrados, amplificados e registrados 300 batimentos em cada exame.


Parâmetros utilizados para avaliação do ECG AR

A alteração em duas dessas três variáveis caracteriza a presença de potenciais tardios.

Alguns fatores limitam a avaliação dos potenciais tardios, como a necessidade de ritmo sinusal, a presença frequente de batimentos ectópicos e, principalmente, a presença de distúrbios de condução, para os quais os critérios devem ser mais rígidos e não estão bem definidos. Exceção a este fato é o que ocorre na Tetralogia de Fallot onde valores diferenciados da duração do QRS do LAS e do RMS permitiram a análise do exame e determinação de valores preditivos.


Monitor de eventos sintomáticos externo

A busca constante da correlação entre sintomas e alterações eletrocardiográficas também é uma constante no manejo do paciente pediátrico. Neste sentido a utilização do monitor de eventos poderia colaborar de forma significativa. Pacientes com crises de perda de fôlego podem evidenciar ao looper pausas sinusais prolongadas fruto do reflexo vagal gerado pela manobra de Valsalva que se estabelece nestes episódios. Assim a mãe pode ativar o aparelho nos momentos das crises possibilitando a perfeita correlação clínico eletrocardiográfica e identificando o exato mecanismo da sincope. Da mesma forma pacientes com quadros de palpitações, dores torácicas e abdominais muitas vezes freqüentes e inespecíficas podem ter seu beneficio quando se apresentam com periodicidade até mensal. Um obstáculo frequentemente observado na população pediátrica consiste na fragilidade da pele principalmente entre os mais jovens, o que dificulta longos períodos de monitorização.
O método aplicado a prática pediátrica tem se mostrado particularmente eficaz para correlação clinico eletrocardiográfica negativa ou positiva com episódios de taquicardia sinusal.


Figura 5 - Avaliação de 25 pacientes submetidos ao looper por 15 dias após exames de ECG, Holter CETE não conseguirem correlação clínico ECG. Observe a alta taxa de ativações em crianças com idade média de 11,2 anos,


Figura 6 - Distribuição dos diagnósticos eletrocardiográficos correlação positiva em 25 pacientes pediátricos submetidos a monitorização de eventos por 15 dias

Teste ergométrico

A utilização do teste de esforço tem sido continuamente aprimorada e aplicada à prática pediátrica. Esteiras com barras de adaptação e equipes treinadas permitem a realização do exame em criança cada vez de menor idade (até 3 anos de vida). Sua utilidade é inquestionável nas palpitações relacionadas aos esforços (assim como o Holter) e pode ser utilizado para diagnóstico de arritmias dependentes de catecolaminas ou na avaliação da resposta cronotrópica de pacientes portadores de BAVT congênito ou disfunção sinusal.
Outra utilização possível na infância ocorre nos casos de pré excitação ventricular. O desaparecimento abrupto da onda Delta pode denotar período refratário longo da via acessória. Entretanto, a visualização do abrupto desaparecimento nem sempre fica claro quando ocorre.



Cardioestimulação transesofágica - CETE

O uso do estudo eletrofisiológico transesofágico ganha particular importância na população pediátrica por permitir de forma não invasiva o diagnóstico de arritmias supraventriculares mantida s por reentrada que são particularmente freqüentes na infância. As taquicardias mediadas por via acessória. O exame pode ser realizado em crianças de qualquer idade sob sedação ou não. A baixa impedância do tórax das crianças permite a utilização de baixa energia na estimulação do átrio. O principio do exame se assemelha ao estudo eletrofisiológico invasivo fornecendo extra estímulos com acoplamentos variáveis na tentativa de determinar a presença de comportamento dual da junção atrioventricular ou mesmo desencadear taquicardias. Apresenta boa tolerabilidade entre os jovens e também permite a avaliação de recorrências entre pacientes que se submeteram a ablação porem persistem sintomáticos. Em um estudo brasileiro utilizando a CETE para elucidação diagnóstica observou-se 28% e taquicardias por reentrada o que vem de acordo com exames utilizando looper que mostram que as crianças não têm elevada especificidade na determinação de seus sintomas.



Figura 7 - Material utilizado durante a CETE - ECG digital, cardioestimulador, cateter esofágico (eletrodo), monitorização eletrocardiográfica convencional, monitor de PA e acesso venoso.


Figura 8 - Episódio de taquicardia por reentrada atrioventricular em paciente de 8 anos> Observe a derivação esofágica em V1 demonstrando RP´' maior que 100 ms


Figura 9- Tolerabilidade à CETE em 60 pacientes pediátricos

Outra facilidade do exame é permitir a reversão das taquiarritmias por overdrive e permitir a avaliação da função do nó sinusal


Figura 10 - Tipo de reversão da TPSV em um estudo com 60 pacientes pediátricos submetidos a cardioestimulação transesofágica.


Tilt Test

É o exame utilizado para confirmar o diagnóstico de síncope de origem neurocardiogênica.
A técnica consiste em submeter o paciente a um estresse ortostático, com inclinação que pode variar de 60 a 80 graus por período variável, monitorizando de forma não-invasiva a pressão arterial e o eletrocardiograma. Após o período de inclinação determinado pelo protocolo, quando o exame é negativo pode-se recorrer à sensibilização do paciente. A sensibilização poder ser realizada por meio de uma nova inclinação ou prosseguimento da mesma com a utilização de fármacos vasodilatadores (nitratos) ou isoprenalina. O objetivo dessa técnica é reproduzir os sintomas que são causados por queda da pressão arterial (geralmente pressão arterial sistólica menor que 70 mmHg) acompanhada ou não de bradicardia. Esse exame é primeiramente indicado em pacientes com história clínica recorrente sugestiva de síncope neurocardiogênica (duas síncopes ou síncope única associada à lesão corporal). O exame pode ser realizado em pacientes com cardiopatias, preferivelmente após investigação cardiológica completa. A maior dificuldade em realizar esse exame em crianças é a tolerabilidade, principalmente naquelas com idade abaixo de 6 anos de idade. O fato de não existir padronização dos protocolos para a realização desse exame dificulta a avaliação da sensibilidade e da especificidade do método. Existem protocolos que apresentam altos índices de falsos negativos e de falsos positivos. Na análise de alguns protocolos pediátricos, a sensibilidade, para pacientes submetidos ao teste não-sensibilizado, oscilou entre 43% e 49%, com especificidade variando entre 93% e 100% (10). Em um protocolo utilizando isoproterenol (doses de 0,02 a 0,06 ?g/kg/minuto), a positividade subiu para 77%, porém houve redução da especificidade para 87% (11). Lewis e colaboradores (12) avaliaram 69 crianças e adolescentes, sem antecedentes de síncope, e as submeteu a diferentes graus de inclinação no teste da mesa inclinada (variando de 60 a 80 graus) por até 30 minutos. Seus resultados revelaram positividade em 24 casos (34,7% de falsos positivos), concluindo que para se obter uma especificidade maior que 85% com ângulos de 60 a 70 graus a inclinação não deve durar mais que 10 minutos. Nesse estudo, casos submetidos a inclinação de 80 graus demonstravam falsa positividade em 60% (6 em 10 controles) (12). Em nossa experiência, os resultados de um protocolo não sensibilizado (15 minutos em posição supina com posterior inclinação a 70 graus por 45 minutos ou até positivação do exame) evidenciaram sensibilidade de 65,6% (21 positivos em 32 exames). Nesse grupo, a média de idade foi de 16,3 + 2,9 anos, variando de 11 a 20 anos. O tempo médio de positivação foi de 15,55 + 10,9 minutos, sendo a resposta mista (bradicardia e hipotensão associados) o padrão predominante (16 em 21 ou 76%). Assim, no teste da mesa inclinada não-sensibilizado existe menor sensibilidade e maior especificidade. Para aumentar a sensibilidade, diversos autores utilizam isoprotenerol em doses de 1 a 3 ?g/min. Existem poucos protocolos específicos para crianças e adolescentes utilizando vasodilatadores. Alguns estudos sugerem que pacientes com média de idade menor têm maior positividade em protocolos sensibilizados com baixas doses de isoproterenol e menor positividade quando recebem vasodilatadores. É válido ressaltar que na literatura existe a predominância de protocolos utilizando isoproterenol em relação aos vasodilatadores.
Quando se avalia o resultado de um protocolo de teste da mesa inclinada deve-se focalizar a história clínica, a reprodução de sintomas e a especificidade do protocolo utilizado, pois protocolos muito agressivos podem gerar maior número de falsos positivos, diminuindo, conseqüentemente, o valor preditivo positivo do procedimento. Os seguintes tipos de resposta são esperados quando se realiza o teste da mesa inclinada (Fig. 11):
- Tipo 1 - Mista. Queda da freqüência cardíaca no momento da síncope (não inferior a 40 batimentos por minuto por mais de 10 segundos com ausência de assistolia maior que 3 segundos) e queda da pressão arterial precedendo a queda da freqüência cardíaca (Fig. 11A).
- Tipo 2A - Cardioinibitória sem assistolia. Queda da freqüência cardíaca abaixo de 40 batimentos por minuto por 10 ou mais segundos, sem assistolia maior que 3 segundos, com queda da pressão arterial precedendo a queda da freqüência.
- Tipo 2B - Cardioinibitória com assistolia. Queda da freqüência com assistolia maior que 3 segundos e queda da pressão arterial concomitante ou precedendo a queda da freqüência
- Tipo 3 - Vasodepressora. Queda da freqüência cardíaca menor que 10% do pico do exame, com queda súbita da pressão arterial (Fig. 11B).
- Resposta disautonômica - Queda da freqüência cardíaca menor que 10% do pico do exame, com queda lenta e gradual da pressão arterial (Fig. 11C). - Taquicardia postural ortostática - Ocorre aumento precoce e sustentado da freqüência cardíaca (maior ou igual a 30 batimentos por minuto em relação à freqüência basal, ou maior que 120 bpm) com queda progressiva da pressão arterial, podendo estar associado com franca hipotensão e síncope
(Fig. 11D).


Figura 11 - Tipos de respostas do Tilt Test. A) mista; B) vasodepressora; C) hipotensão ortostática; D) POTS

Outra possibilidade de sensibilização do exame é feita com nitrato sublingual, porém estudo recente demonstra que a utilização deste fármaco em crianças pode estar associado a respostas vasovagais mais exacerbadas.


Figura 12- Resposta cardioinibitória em adolescente após sensibilização com nitrato Assistolia de mais de 30 segundos.

Considerações sobre métodos diagnósticos na criança portadora de cardiopatia congênita.

O período pós-operatório é contemplado por diversas formas de arritmias. Para fins diagnósticos dividir as taquicardias em taquicardias de complexos QRS estreitos e taquicardias de complexos QRS alargados. Quando no ECG visualizamos taquicardias de complexos QRS largos na infância geralmente são de origem ventricular. No entanto a presença de bloqueio no pós operatório pode dificultar o diagnostico. No entanto, taquicardia supraventricular com aberrância de condução, ao contrário dos adultos, ocorre em apenas 2% das crianças sem bloqueio de ramo pré existente. Na análise do ECG devemos observar os limites da FC para as diferentes faixas etárias.
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Tabela 1 - Freqüência cardíaca para as diferentes idades
Idade Min 5% Média 95% Max DP
0-24 h 85 94 119 145 145 16,1
1-7 dias 100 100 133 175 175 22,3
8-30 dias 115 115 163 190 190 19,9
1-3 meses 115 124 154 190 205 18,6
3-6 meses 115 111 140 179 205 21,0
6-12 meses 115 112 140 177 175 18,7
1-3 anos 100 98 126 163 190 19,8
3-5 anos 55 65 98 132 145 18,0
5-8 anos 70 70 96 115 145 16,1
8-12 anos 55 55 79 107 115 15,0
12-16 anos 55 55 75 102 115 13,5


Durante o período de internação imediatamente após o período cirúrgico a incidência de arritmias varia de forma significativa nos diversos estudos estando muito provavelmente subestimadas em nosso meio girando ao redor de 8% em uma série de 610 cirurgias cardíacas congênitas
?
Correlação entre tipo de cardiopatia congênita e possíveis arritmiasT
Condição clínica Substrato Arritmias pré ou pós operatórias Comentários
Comunicação interatrial Dilatação do átrio direito (pré operatório)
Atriotomia e manipulação atrial (pós operatório) Taquicardia atrial (pré e pós)
Flutter atrial (pré e pós)
Fibrilação atrial (pré e pós)
Lesão mecânica pós operatória do sistema elétrico do coração (pós) Fibrilação, flutter atrial e taquicardia atrial
geralmente surgem na evolução tardia
Comunicação interventricular Lesão cirúrgica do sistema de condução ou processo inflamatório pós CEC Bloqueios atrioventriculares (pós)
Taquicardia juncional (pós)
Taquicardias ventriculares (pré e pós com disfunção miocárdica) Episódios de taquicardia juncional
ocorrem predominantemente nos
primeiros dias de pós operatório
Transposição corrigida de grandes artérias (L-TGA) Distorção do sistema de condução pela inversão ventricular, lesão cirúrgica Bloqueios atrioventriculares até BAVT Pode ocorrer espontaneamente ou no
pós operatório de ventrículosseptoplastia
, por exemplo
Isomerismo atrial Esquerdo: ausência de nodo sinusal;
Direito: Dois nodos sinusais;
Presença de dois nodo atrioventricular (possível) Arritmias atriais (ritmos atriais ectópicos, taquicardia atrial multifocal)
Taquicardia por reentrada atrioventricular por feixes acessórios ou por dois NAV
Pode ter diversas arritmias atriais
primarias ou secundárias a
procedimentos cirurgicos
Tetralogia de Fallot Disfunção e dilatação do VD
Lesão pós operatória Arritmias ventriculares (simples ou complexas)
Maior risco quanto mais tardio o pós operatório e maior idade na correção cirúrgica Risco de morte súbita e arritmias
malignas quando QRS maior que
180ms, insuficiência pulmona
r importante e disfunção de VD
Anomalia de Ebstein Dilatação atrial e feixes anômalos Arritmias atriais (Flutter e FA)
WPW Maior incidência de feixes anômalos
que a população geral.
Normalmente feixes a direita
Miocardiopatia hipertrófica Feixes acessórios
Mecanismos de reentrada na musculatura ventricular TPSV por macrorrentrada atrioventricular
Arritmias ventriculares (simples ou complexas) Septo maior que 30mm, síncope,
TVNS,
TVS e história familiar de morte súbita são critérios de gravidade


Assim o simples eletrocardiograma acompanhado ou não de derivações especiais (com uso de fio de marcapasso atrial, cateter de derivação esofágica ou derivações modificadas como derivações de Lewis) é o principal método diagnostico, visto a intensa vigilância das equipes de saúde.
A presença dos fios de marcapasso, principalmente os implantados no átrio constitui uma arma poderosa para o diagnóstico preciso das arritmias de pós-operatório. As cirurgias com manipulação dos átrios e das valvas atrioventriculares ficam propensas às arritmias atriais (taquicardia atrial, fibrilação atrial ou flutter atrial) e a presença do fio de marca-passo atrial propicia uma derivação univentricular (V1) com nítida visualização da onda P ou F (se estas existirem). Taquicardias atriais podem se confundir com o flutter atrial devido à freqüência atrial rápida e não são raras freqüências acima de 250 batimentos por minuto. Nos casos onde não é possível determinar com clareza a forma de arritmia atrial, a utilização de manobras vagais ou mesmo adenosina permite no ambiente hospitalar o registro da atividade elétrica supraventricular. A presença ou ausência de fase isoelétrica entre duas ondas F determina o diagnóstico. Em cirurgias com manipulação ventricular o processo inflamatório ou a circulação extra-corpórea (principalmente quando prolongada) geram taquicardias juncionais (JET) ou taquicardias de complexos QRS alargados que muitas vezes causam dificuldade diagnóstica (entre as taquicardias ventriculares ou taquicardias associadas a bloqueios de ramo permanentes ou aberrância de condução). Ocorre preferencialmente crianças com menos de 1 ano de vida sendo na forma não paroxística que esta arritmia ganha importância no pós operatorio (mais comum) fruto da CEC, hipóxia, desequilíbrio eletrolítico ou trauma cirúrgico que lesa as células na região do feixe de His e raramente é encontrada em crianças com coração normal.
Para taquicardias de complexos alargados nem sempre a aplicação dos critérios de Brugada, mesmo que agregados aos novos critérios para taquicardias de complexos alargados, são uteis. Na investigação da dissociação atrioventricular, ou ainda na pesquisa da relação entre ondas P e complexos QRS, o registro da onda P com derivação transesofágica ou derivação de Lewis pode ser útil.
As taquicardias por reentrada com participação da junção atrioventricular são facilmente elucidadas pelo ECG e confirmadas pela interrupção da taquicardia com manobra vagal ou adenosina.
Nas taquicardias por reentrada nodal na maioria dos casos não é possível a visualização da onda P podendo vir acompanhadas de pulsações cervicais e ganha importância entre pacientes portadores de cardiopatia congênita operados na idade adulta.
As taquicardias por reentrada atrioventriculares (com pré excitação- síndrome de WPW ou naquelas onde a presença do feixe só pode ser feita durante a taquicardia - vias de condução retrograda exclusiva) ocorrem com maior freqüência em pacientes portadores de anomalia de Ebstein, miocardiopatia hipertrófica e miocárdio não compactado. Nos casos de pré-excitação ventricular o simples ECG de 12 derivações pode fornecer o diagnóstico e ainda informar de forma mais precisa a localização da via acessória. Quando o paciente apresenta queixa de taquicardia deve ser prontamente realizado. Quando esta arritmia incide no pós operatório a presença de fios de marca-passo atrial possibilita o registro perfeito das ondas P retrogradas o que auxilia em muito a diferenciação dos circuitos de micro e macro reentrada pela análise do intervalo RP´. Nos casos de registro da crise devemos sempre tentar o registro da saída da taquicardia mantendo o ECG conectado e ligado durante a reversão em derivações isoladas ou simultâneas.
Nos casos onde o NAV é um expectador da arritmia (taquicardia sinusal/atrial/flutter/fibrilação atrial) a diminuição da resposta ventricular permite a análise detalhada do que ocorre no território supraventricular.
Quanto às bradicardias que ocorrem no período intra hospitalar o registro do ECG de 12 derivações permite a análise das bradicardias por alteração na formação do estimulo (bradicardias sinusais, bloqueios sinoatriais de segundo grau ou mesmo pausas sinusais), a presença de alterações na condução do estimulo aos ventrículos manifestado pelos bloqueios atrioventriculares de primeiro segundo e terceiro grau assim como suas variantes.
As bradicardias podem ocorrer em quase todos os pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos ou por edema local próximo ao nó sinusal ou devido a mecanismos inflamatórios ou mecânicos que danifiquem o sistema de condução em qualquer dos seus níveis. Raramente durante o período de internação para o diagnostico lançamos mão de outros métodos diagnósticos não invasivos para a pesquisa dos eventos arrítmicos ou mesmo na estratificação de risco para morte súbita. No entanto o Holter de 24 horas pode auxiliar a quantificar as arritmias e buscar com mais facilidade períodos de bloqueios ou batimentos bloqueados que podem ser fugazes e passar despercebidos da equipe de assistência.

Estratificação de risco não invasivo no período extra Hospitalar e no pós operatório tardio

Neste período ganham importância as manifestações clinicas (palpitações, por exemplo) e o conhecimento do cardiologista pediátrico sobre os métodos que podem ser utilizados para a triagem destes pacientes. Pacientes com queixas de palpitação devem ser inquiridos sobre as suas características, forma de inicio, fatores desencadeantes, freqüência de surgimento e duração total dos sintomas. Queixas duradouras que permitam o tempo para acesso ao serviço de saúde devem ser encaminhados para registro do ECG de "crise" possibilitando assim a correlação clinico eletrocardiográfica precisa. Pacientes portadores de cirurgia tipo cavopulmonar e adultos podem evoluir com fibrilação atrial paroxística assintomática ficando o diagnóstico critério da busca ativa com Holter ou a utilização de monitorização mais prolongada como o Holter de sete dias. Num relato de 22 anos de experiência no seguimento clínico de 35 casos de fibrilação atrial em crianças com idade variando entre 1 dia e 19 anos (idade média 8 anos), Radford e Izukawa demonstraram que a arritmia ocorreu em diversas condições clínicas, mas principalmente associada à correção cirúrgica de cardiopatias. A grande questão da investigação ocorre quando os sintomas não são freqüentes o bastante para serem flagrados com o Holter ou quando não duram tempo o suficiente que permita ao paciente procurar a assistência médica para registro da arritmia. Nestes casos a utilização do monitor de eventos externo por até 30 dias possibilita o registro da correlação clinico eletrocardiográfica e elucidação do quadro varia entre 50 a 70% dos casos. Nestes casos aproximadamente 10% dos casos necessitam de intervenção médica rápida após transmissão dos eventos 11. Outra maneira de investigar pacientes com taquicardias de inicio e termino súbito onde exista a possibilidade da presença de taquicardias mantidas por reentrada pela junção atrioventricular é a cardioestimulação transesofágica (CETE). O CETE também permite na síndrome de pré excitação a avaliação do período refratário da via acessória.. Outra utilidade do Holter é a detecção de pré excitação ventricular intermitente durante principalmente os episódios de bradicardia.
A abordagem das arritmias ,no pós operatório tardio da tetralogia de Fallot, combinado aos métodos de imagens (principalmente o ecocardiograma) podem fornecer fatores preditores do risco de morte súbita. A análise do ECG na tetralogia de Fallot em ritmo sinusal permite a avaliação da duração dos complexos QRS e de maneira seqüencial ao longo dos anos permite calcular a velocidade do alargamento destes complexos como fatores independentes para o risco de morte súbita. Duração dos complexos QRS maior que 180 ms e alargamentos superiores a 4ms ao ano permite identificar um grupo mais propenso a desenvolver arritmias ventriculares malignas. A utilização do Holter para monitorizar o surgimento de arritmias ventriculares complexas (taquicardias ventriculares) também permite a análise da variabilidade da freqüência cardíaca de papel na infância e adolescência ainda não esta determinado. O eletrocardiograma de alta resolução para pesquisa de potenciais tardios pode ser utilizado na população com tetralogia de Fallot com valores preditivos negativos giram entre 92 e 100%.
A investigação das taquicardias sintomáticas ou palpitações na tetralogia de Fallot deve seguir do ponto de vista não invasivo a busca ativa dos eventos arrítmicos com Holter, monitor de eventos sintomáticos e tentativa de eletrocardiograma de 12 derivações durante a presença dos sintomas. Nos pacientes portadores de cardiopatia congênita grave a investigação dos quadros de sincope devem ser realizada sempre no intuito da avaliação de potenciais eventos arrítmicos deixando a documentação de episódios de sincope neuromediada como ultima alternativa parra evitar resultados falsos positivos que podem confundir o diagnostico. Para quadros associados ao esforço físico o teste ergométrico fornece dados do comportamento de focos arrítmicos sob efeito de catecolaminas.
Nos casos de isomerismos podemos encontrar crises de taquicardia de origem atrial ou por reentrada atrioventricular que podem ser registradas com o auxilio do ECG durante a crise quando este for possível. Nos casos onde as crises são de curta duração a busca do traçado da crise pode ser feita com o Holter para crises com periodicidade inferior a uma semana ou ainda com monitor de eventos sintomáticos que permite a correlação clinico ECG perfeita nos casos que apresentam sintomas na vigência do exame. Na pesquisa de fibrilação atrial pode ser útil a monitorização por sete dias visto que parte dos episódios de FA podem ser assintomáticos. A utilização do CETE propicia o fornecimento de gatilhos para o registro de taquicardias por reentrada.
Para investigação das bradicardias que podem ocorrer no pós operatório tardio o do eletrocardiograma fornece dados quanto a possíveis lesões do sistema de condução. Defeitos no automatismo sinusal vistos no ECG como bradicardias ou pausas representam falhas no automatismo sinusal ou a presença de bloqueio sinoatrial de segundo grau. Ritmos de suplência podem ser avaliados com o ECG de 12 derivações assim como a presença de marca-passos ectópicos ou migratórios. O Holter permite avaliar bradicardias inapropriadas e também permite a avaliação precisa da freqüência cardíaca média, mínima e correlação com eventuais sintomas. Para avaliação da função sinusal é útil a avaliação do comportamento da FC no esforço. A presença de déficits cronotrópicos ou sintomas fornecem dados importantes sobre a disfunção sinusal. O CETE pode ser utilizado para calcular o tempo de recuperação do no sinusal e o tempo de recuperação do no sinusal corrigido. A pesquisa da frequência cardíaca intrínseca pode ser realizada com a infusão de atropina e beta bloqueador conjuntamente para bloqueio autonômico.
Casos negativos no estudo eletrofisiológico (para sincope com bloqueio de ramo) que apresentam sintomas com periodicidade até mensal podem se beneficiar da monitorização de eventos. Aqueles com periodicidade superior a isto só se beneficiariam do monitor de eventos implantável. O Holter auxilia no diagnostico dos bloqueios atrioventriculares de primeiro grau intermitentes, bloqueios de segundo grau e bloqueios de terceiro grau de características intermitentes ou persistentes. Outro dado importante na análise do Holter de 24 horas é a presença de pausas que podem ser geradas por extras sístoles atriais bloqueadas. Nos casos de isomerismo atrial principalmente no isomerismo atrial esquerdo a análise do Holter de 24 horas pode determinar a estabilidade do marca-passo atrial além de fornecer dados sobre a freqüência cardíaca mínima e média.
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Arritmias Próprias da Criança

Existe um grupo de arritmias que acometem as crianças com cardiopatias congênitas mesmo antes de se submeterem aos procedimentos cirúrgicos.
As taquicardias atriais podem ocorrer frequentemente em pacientes portadores de anomalia de Ebstein, portadores de dilatações atriais secundarias a comunicação inter atrial ou mesmo drenagens anômalas pulmonares. Também podem ocorrer em pacientes portadores de dilatação atrial secundária a atresias ou estenoses das valvas direitas e esquerdas. Nestes casos a maioria das formas pode passar assintomática sendo flagradas em exames de rotina e durante a realização de Holter 24 horas. Casos sintomáticos podem ser pesquisados de acordo com a duração dos sintomas ou freqüência dos episódios, com ECG no setor de emergência ou com monitor de eventos sintomáticos quando os sintomas forem mais escassos.
Pacientes portadores de miocardiopatia hipertrófica, anomalia de Ebstein e miocárdio não compactado ou isomerismos atriais ficam expostos à arritmias por reentrada com participação da junção atrioventricular. O registro do ECG de 12 derivações nos paciente portadores de pré excitação ventricular persistente pode fazer o diagnóstico. Nos casos de pré excitação intermitente o ECG de repouso pode falhar em registrar a pré excitação. Nestes casos para evidenciar a via acessória utilizamos manobras vagais ou mesmo infusão de adenosina. Nos casos de vias acessórias de condução retrograda exclusiva existe a necessidade de registro do ECG da crise de taquicardia, o que pode ser tentado de acordo com sua freqüência com monitor de eventos sintomáticos. O Holter de 24h geralmente falha em registrar crises de taquicardia. Outra opção quando a investigação de rotina falhou em registrar a crise é o CETE que ambém permite a estratificação de risco e calculo do período refratário da via acessória de forma pouco invasiva.
A taquicardia juncional, já descrita acima, que ocorre no pos operatório tem sua etiologia multifatorial. A utilização da derivação unipolar com fio de marcapasso atrial facilita o diagnóstico e deve ser utilizada.
Quanto à bradicardias merecem destaque a investigação de disfunção do marca-passo atrial nos isomerismos e o risco de bloqueios átrio ventriculares nas transposições congenitamente corrigidas. Neste ultimo a evolução para bloqueios atrioventriculares pode ser investigada por meio da eletrocardiografia de superfície e incrementada pelo Holter de 24 horas que pode flagrar bloqueios paroxísticos.
Outra forma de bradicardia que ocorre nas cardiopatias congênitas na infância são episódios de bigeminismo ou extra-sístoles atriais bloqueadas que são diagnosticadas pelo ECG 12 derivações e pelo Holter.
Considerações Finais:
Conhecer o diagnóstico é essencial para propor tratamentos clínicos ou invasivos adequadamente, sobretudo em uma população de alto risco como pacientes pediátricos. Na grande maioria dos casos necessitamos de uma abordagem geral, combinando múltiplos métodos para flagrar os eventos e ditar a conduta

Leitura sugerida

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